Maringá

Ney Marques: a rápida e inesquecível passagem de um economista gaúcho por Maringá, no Paraná

1970

Com texto de Marco Antonio Deprá

Ney Marques nasceu em 31/12/1928, em Porto Alegre (RS), filho de Anitta Kraemer Marques e Waldemar Marques.

Concluiu os cursos ginasial e científico no Colégio Anchieta, na capital gaúcha, no período de 1940 a 1946.

Com 23 anos de idade, em 19/01/1952, tomou posse como funcionário do Banco do Brasil na agência de Blumenau (SC), e em 16 de abril do mesmo ano casou-se, em Porto Alegre, com Eny Antunes de Souza, nascida na capital gaúcha, em 27/02/1931, filha de Luis Marques de Souza e Hercília Ayres Antunes de Souza. O casal foi residir em Blumenau.

Eny e Ney, recém-casados, em 16/04/1952. Fonte: Acerto da família de Ney Marques.

A primeira filha do casal, Elaine Maria de Souza Marques, nasceu em Blumenau, em 05/04/1953.

Em 06/03/1955, já de volta a Porto Alegre com a esposa e a filha, Ney Marques foi aprovado para o curso de Ciências Econômicas da Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Estava com 26 anos de idade.

Em 13/06/1955, nasceu, em Porto Alegre, Enyara de Souza Marques, segunda filha do casal Ney e Eny.

Em 18/12/1958, Ney Marques graduou-se em Ciências Econômicas, com distinção de “Láurea Acadêmica”. Durante o curso já revelava sua preocupação com a problemática econômica, política e social do país, o que o levou a participar ativamente na fundação e direção do Jornal Mauá, do Centro Acadêmico da Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas da PUCRS, através do qual publicou, em 1957, um ensaio intitulado “Estudo da Renda Nacional”.

Termo de Láurea - Fonte: Acerto da família de Ney Marques.

Recém-formado, iniciou sua carreira de professor na PUCRS, ministrando a disciplina “Estudo Comparado dos Sistemas Econômicos”.

Em 1960, Ney Marques transferiu residência, junto com sua família, para Santiago, no Chile, onde fez o curso de pós-graduação em Economia na Escuela de Estudios Económicos Latinoamericanos para Graduados – ESCOLATINA, instituição de ensino pertencente à Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe - CEPAL, organização sediada naquela cidade. 


Criada pelo Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas – ONU em 1948, a CEPAL tinha como objetivo incentivar a cooperação econômica entre os seus membros. Era formada por economistas, principalmente argentinos e brasileiros, dos quais se destacavam o argentino Raúl Prebisch e o brasileiro Celso Furtado. A ideia da CEPAL era formar multiplicadores de suas ideias e, no Brasil, o profissional que possuía esta formação e experiência era muito valorizado. 

Em 1961, Ney Marques foi aluno do professor chileno Carlos Oyarzúm Salinas, do qual passou a ser assistente na própria ESCOLATINA e também na Universidad de Concepción, também no Chile, ministrando as disciplinas “Desenvolvimento Econômico”, “Programação do Desenvolvimento” e “Oferta Monetária”.

Carlos Oyarzúm Salinas foi um grande economista chileno, dotado de extraordinária capacidade criadora, professor do Centro Interamericano de Enseñanza de Estadísticas Económicas y Financeiras – CIEF e na ESCOLATINA, dentre outras instituições. No Brasil, em 1958, foi um dos palestrantes do Curso de Treinamento em Problemas de Desenvolvimento Econômico, promovido com o objetivo de prover o instrumental necessário para a análise dos problemas do desenvolvimento, bem como o estudo de meios técnicos para proporcionar soluções adequadas a esses problemas. O curso de três meses foi realizado pelo Governo Brasileiro, em conjunto com a ONU, através da CEPAL, do então Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB e da Administração de Assistência Técnica – AAT, organização vinculada à ONU. O curso era destinado a economistas, engenheiros, professores universitários e funcionários públicos.

Em Santiago, Ney Marques fez o curso de extensão e aperfeiçoamento no CIEF, órgão que foi criado, em 1962, pelo Conselho da Organização dos Estados Americanos – OEA, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento dos estudos sobre estatística nos países membros.

Durante o período em que esteve na ESCOLATINA, Ney Marques publicou três obras: 
“Introduciónal Análises del Desarrollo Económico”, através da própria ESCOLATINA, publicada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO;
“El Desarrollo Ecónomico y el Sector Agrícola”; e 
“Ejercícios de Análises Preparatórios para el Curso de Desarrollo Ecónomico”, em coautoria com o professor Carlos Oyarzúm Salinas.  Tal obra, revisada e ampliada, foi reeditada, em 1966, no Peru, através da Escuela de Economia da Universidad Nacional de Ingenieria, sob o título “Ejercícios de Introdución al Análises del Desarrollo Económico”.

Nos anos de 1962 e 1963, Ney Marques dedicou-se às atividades docentes, como professor titular, na ESCOLATINA, das disciplinas “Contabilidade Social” e “Introdução à Técnica de Programação”, sendo essa para o Curso de Pós-Graduação.

Em 23/12/1962, nasceu em Santiago, no Chile, Ney Marques Filho, terceiro e último filho do casal Ney e Eny.

Devido à sua vinculação funcional ao Banco do Brasil, Ney Marques participou da instalação da agência daquela instituição em Santiago, capital chilena, onde integrou a delegação brasileira nas negociações com o governo chileno, orientou os trabalhos de instalação da agência, inaugurada em 19/08/1963, e controlou o funcionamento do projeto durante os primeiros meses. Segundo seu filho, Ney Marques foi o primeiro subgerente dessa agência. 

A implantação de agências bancárias no exterior foi uma estratégia do governo brasileiro e do Banco do Brasil, com o objetivo de estimular o livre comércio e as operações de troca entre os países latino-americanos, ligados por tantos vínculos políticos e interesses econômicos. A agência de Santiago foi a quinta agência do Banco do Brasil - BB no exterior, depois de Buenos Aires, Montevidéu, Assunção e La Paz. À época estavam sendo ultimados os preparativos para a instalação da agência do BB em Lima, no Peru.

Essas ações eram fruto do Tratado de Montevidéu, assinado em 1960 com o objetivo de estabelecer uma Zona de Livre Comércio e instituir a Associação Latino-Americana de Livre Comércio. Foi assinado pela Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e Uruguai. A CEPAL enxergava na formação de um mercado comum latino-americano uma condição fundamental no processo de substituição de importações. Segundo a CEPAL, esse processo contribuiria das seguintes formas: ampliação dos mercados nacionais, gerando economias de escala; alocação de atividades industriais mais convenientes para cada país; aumento do intercâmbio comercial entre os países da região; e crescimento da exportação de manufaturados decorrentes da ação dos dois primeiros.

Em 1964, Ney Marques passou a lecionar “Contas Sociais” no Centro Interamericano de Ensenãnza de Estadísticas – CIENES. Em março daquele ano esteve em Porto Alegre para ministrar a disciplina “Política Monetária e Desenvolvimento Econômico”, em um curso de extensão promovido pela Faculdade de Ciências Econômicas da PUCRS.

Ney Marques e família desembarcando no Aeroporto Internacional de Ezeiza, na região metropolitana de Buenos Ayres, Argentina, em 15/03/1964. Fonte: Acerto da família de Ney Marques.

Em meados de 1964, Ney Marques transferiu residência para Lima, no Peru, onde permaneceu até 1966. Naquele país, exerceu intensa atividade profissional e acadêmica, tendo deixado três obras publicadas:
“Elementos de Análises Económicas del Desarrolo Económico”;
“Algumas Herramientas de Planaficación Sectorial”; e
“Población y Desarrolo Económico”, esta última publicada pela Faculdade de Ciências Médicas Cayetano Haredia, enquanto as demais pelo Instituto Nacional de Planificação do Governo.

No Peru, inicialmente assumiu a função de Economista Geral do Grupo Assessor de Planejamento daOEA, CEPAL e BID, vindo um ano depois a desempenhar o cargo de Programador Geral, Consultor da OEA e Chefe Interino da Missão, onde elaborou vários trabalhos sobre a economia peruana, dentre os quais, “Programas de Investimentos Públicos” e “Diagnóstico Econômico e Social do Peru”.

Como consultor da OEA, foi convidado a assumir a função de Assessor em Programação Geral do Governo do Peru, junto ao Instituto Nacional de Planificação.

Foi através desse órgão, que reassumiu sua atividade docente, lecionando, nos anos de 1964 a 1966, em inúmeros cursos de extensão, disciplinas como “Economia Setorial”, “Planejamento Econômico” e “Desenvolvimento Econômico”.

Em agosto/1965, tornou-se professor titular da Escuela de Economia da Universidad Nacional de Engenieria e da Faculdad de Oceanografia y Pesca da Universidad Nacional Frederico Villareal, lecionando respectivamente “Teoria Econômica” e “Planificação Pesqueira”.

Dos cursos de extensão que participou como professor, cabe ressaltar o do Instituto Latino Americano de Planificação Econômica e Social – ILPES, onde lecionou “Financiamento do Desenvolvimento” e “Técnicas de Planificação”, e o curso de extensão do Centro de Altos Estudos Militares do Peru – CAEM, ministrando “Planejamento Econômico” e “Desenvolvimento Econômico”.

Em maio/1966, Ney Marques foi distinguido com o título de “Membro Honorário” do Colégio de Economistas do Peru.



Carteira de Identificação de Ney Marques, emitida pela OEA, em 12/04/1966. Fonte: Acerto da família de Ney Marques.

Ainda em 1966, Ney Marques ministrou o curso "Programação do Desenvolvimento", na Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas da PUCRS, em Porto Alegre (RS).

Durante sua permanência em Lima, no Peru, Ney Marques publicou um livro intitulado "Ejercícios de Introducción al Análisis del Desarrollo Económico" pela Escuela de Economia da Universidad Nacional de Ingeniería, daquela capital, onde, à época, era professor titular na instituição.

Como funcionário da OEA, Ney Marques viajou pela América do Sul para ministrar cursos intensivos, como o realizado na Faculdade de Ciências Econômicas em Potosi, na Bolívia, quando lecionou a disciplina “Financiamento do Desenvolvimento”, tendo sido na oportunidade agraciado com o título de “Visitante Ilustre”.

No final de 1966, de volta ao Brasil, Ney Marques e sua família moraram pouco tempo em Porto Alegre e, logo depois, transferiram residência para Brasília (DF), no apartamento 105, do Bloco G da SQS-114.

Na capital federal, Ney Marques foi professor titular no Departamento de Economia do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília - UnB, onde trabalhou com o professor Juan Prado Balcázar, antigo colaborador dos tempos da ESCOLATINA. Também foi diretor do Instituto de Ciências Humanas. 

Na UnB lecionou as disciplinas “Política de Programação Econômica”, “Economia Monetária”, “Teoria do Desenvolvimento Econômico”, “Introdução à Economia”, à nível de graduação. Já a nível de pós-graduação lecionou “Análise da Estrutura Econômica”, “Economia Política Monetária” e “Desenvolvimento Econômico Brasileiro”, no Curso de Especialização e Planejamento Econômico e Social, do qual foi coordenador, nos anos de 1967 a 1968.

Ainda como professor, participou de cursos promovidos pelo Conselho Regional de Economistas Profissionais da 11ª Região e Conselho Técnico de Economia e Finanças do Ministério da Fazenda, do Curso de Preparação para os participantes do Projeto Rondon, pelo Centro de Treinamento e Desenvolvimento do Pessoal do Ministério da Fazenda.

A partir de setembro/1967, foi presidente da Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central – CODEPLAN, empresa criada pelo Governo do Distrito Federal, em 05/12/1966. Também foi superintendente do Centro de Estudos e Planejamento Econômico e Social – CEPES, em Brasília (DF). A partir de então, dirigiu os trabalhos de elaboração do orçamento plurianual de investimentos do Distrito Federal, entre os anos 1968 e 1970, em Brasília (DF). Também dirigiu os trabalhos sobre Análise da Economia Brasileira, baseado nas contas nacionais do Brasil, no CEPES, também em Brasília.

No dia 07/12/1967, o professor Ney Marques foi o paraninfo da turma de formandos em Economia pela Universidade de Brasília.

Em outubro/1968, concluiu o livro "Análise da Estrutura Econômica - Modelo de Relações Macrofuncionais, publicado em 1970, pelo Centro de Estudos e Planejamento Econômico e Social - CEPES. À época, ministrava cursos no Instituto Latinoamericano de Planifacación Económica y Social - ILPES, vinculado à ONU. Após a publicação de seu livro, passou a divulgar cursos e palestras pelo Brasil.

Capa do livro "Análise da Estrutura Econômica - Modelo de Relações Macrofuncionais”, de Ney Marques. Fonte: Acerto da família de Ney Marques.

Em 24/06/1969, Ney Marques apresentou sua tese de doutorado em Economia. À época, pertencia ao Departamento de Economia da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Brasília (DF). Doutorou-se, como Livre Docente, pela Universidade de Brasília, em 1970, com distinção máxima, ao revelar invulgar capacidade de trabalho e dedicação, aliada a uma notável inteligência.

Depois, Ney Marques foi consultor especial na elaboração do documento "Linhas de Ação do Governo 1972/1974”, elaborado pela Secretaria do Planejamento e Coordenação do Estado de Goiás, em 1971.

Ainda em 1971, a Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Maringá – FECEM, dirigida pelo professor José James da Silveira, contratou o professor Ney Marques para lecionar as disciplinas de “Análises da Estrutura Econômica”, “Desenvolvimento Econômico: Problemática e Estratégia”, “Análise Econômica Setorial” e “Contabilidade Social”.

Na mesma época, Ney Marques desenvolveu atividades docentes em Londrina, no curso de extensão promovido pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas e Contábeis e no Centro de Estudos Sócio-Econômicos, da mesma entidade.

Iniciou-se, a partir daí, interesse recíproco entre a FECEM e o professor Ney Marques, que, à época, estava em processo de mudança para Porto Alegre. Foi nesta circunstância que Ney Marques aceitou o convite para transferir residência para Maringá.

Importante contextualizar o momento em que Ney Marques chegou a Maringá.

A Faculdade Estadual de Ciências Econômicas – FECEM havia sido criada há 12 anos pela Lei Estadual nº 4070, de 28/08/1959. O curso de Economia havia sido autorizado a funcionar em 1960 e recebera os primeiros alunos em 1961. A primeira turma havia concluído a graduação em 1964. A FECEM havia sido reconhecida através do Decreto Federal 61.584/1967, de 20/10/1967.

Dois anos depois, após campanha empreendida por cidadãos maringaenses, a Assembleia Estadual do Paraná autorizou a criação da Universidade Estadual de Maringá, através da Lei Estadual nº 6.034, de 06/11/1969, agregando as três faculdades estaduais existentes em Maringá à época: Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Maringá, Faculdade Estadual de Direito de Maringá, criada em 21/12/1965, a Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Maringá, criada em 24/12/1966, mais o Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas (ICET), criado um dia antes, em 05/11/1969.

Pelo Decreto Estadual nº 18.109, de 28/01/1970, havia sido criada, sob a forma de fundação de direito público, a Fundação Universidade Estadual de Maringá (FUEM), que seria reconhecida em 11/05/1976, pelo Governo Federal, através do Decreto nº 77.583.

Desde sua criação, e até o reconhecimento da FUEM pelo Governo Federal, foi mantido o modelo estrutural de três faculdades e um instituto. A partir dessa data, foi adotado o modelo de departamentos coordenados por centros.

Em 01/03/1972, Ney Marques foi admitido como professor na Fundação Universidade Estadual de Maringá - FUEM, onde passou a ministrar as disciplinas "Política e Programação Econômica" e "Análise do Desenvolvimento Brasileiro", no Departamento de Economia da Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Maringá.

Segundo o professor Jaime Graciano Trintin, do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá – UEM, Ney Marques foi o responsável pela reformulação do conteúdo programático das disciplinas e pela reformulação e organização da matriz curricular do curso de economia, adaptando-a ao contexto histórico do Brasil do início dos anos 1970, em que o pensamento econômico no Brasil recebeu forte influência da CEPAL. Também colaborou na reformulação do conteúdo programático das disciplinas e na qualificação do pessoal docente da área.

Vale lembrar que à época da chegada de Ney Marques a Maringá, o Estado do Paraná ainda não tinha um órgão de planejamento e sequer um departamento de estatística.  Foi durante a gestão do governador Pedro Viriato Parigot de Souza (23/11/1971-11/07/1973), que isto iria ocorrer, no contexto da criação do Sistema Nacional de Planejamento, quando foi criada, em 07/06/1973, a Fundação Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, atual Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social - IPARDES.

Durante sua permanência em Maringá, Ney Marques foi um grande incentivador da criação do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas de Maringá – CEPEM, do qual foi consultor e de cuja implantação participou. Também inspirou a criação do Prêmio CEPES de Economia.

À época, também ministrava cursos de extensão e de pós-graduação, ao abrigo do convênio CEPES/CEPEM, e também através da Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (PR). Concomitantemente, participou como consultor especial de projetos do CEPEM, Banco de Desenvolvimento do Paraná - BADEP e UEM. Dentre estes trabalhos destacam-se: “Subsídios ao Conselho Federal de Educação para o Projeto de Fixação Preliminar dos Distritos Geo-Educacionais do País”, “Universidade Estadual de Maringá: Realidade Presente e Perspectivas Futuras”, “Comentários e Sugestões sobre o Documento Preliminar – Diagnóstico e Diretrizes de Ação do Governo do Estado”.

Autêntico “Semeador” de ideias e conhecimentos junto ao corpo docente e discente da Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Maringá – FECEM, Ney Marques foi o mentor e professor do Curso de Especialização em Planejamento Econômico e Social, realizado na FUEM. Este curso, juntamente com o estágio remunerado que orientou, visando à preparação de acadêmicos de economia para o magistério superior, constituíram-se em grandes instrumentos de qualificação da maioria dos professores do Departamento de Economia da UEM, à época. Dentre tais alunos, pode-se citar os professores Moacir Colombo, João Celso Sordi e Sincler Sambatti.

Em Maringá, Ney Marques e família residiram em uma casa alugada, situada na Rua Tomé de Souza, nº 411, na Zona 2.  Seus filhos estudaram em instituições públicas de ensino: as filhas no Colégio Gastão Vidigal; e o filho no Instituto Estadual de Educação.

Em 22/06/1972, o então senador José Sarney, presidente do Instituto de Pesquisas, Estudos e Assessoria do Congresso Nacional - IPEAC, solicitou, através de ofício à FUEM, a ida do professor Ney Marques a Brasília, a fim de prestar consultoria e fazer palestras aos congressistas sobre assuntos econômicos.

Em 22/10/1972, Ney Marques proferiu a palestra "Natureza de acesso ao crédito e pressões inflacionárias", durante o 2º Congresso Brasileiro dos Economistas, realizado no Centro de Convenções do Hotel Glória, no Rio de Janeiro (RJ).

Ney Marques tinha como costume vestir um colete de terno, sem o paletó. Em sua despedida da UEM, foi presenteado com um novo colete contendo as assinaturas de todos os seus alunos. Tal peça é guardada pela família até os dias atuais. Em reconhecimento ao seu trabalho e dedicação, seu nome foi escolhido pelos alunos como paraninfo das turmas de formandos de Economia da UEM de 1974 e do primeiro semestre de 1977. Também foi nome de turma no 2º semestre/1979, como homenagem póstuma.

Em 31/12/1973, Ney Marques encerrou seu contrato com a UEM e mudou-se com a família para Porto Alegre, sua cidade natal. 

Registros de Contratos de Trabalho na Carteira Profissional de Ney Marques. Fonte: Acerto da família de Ney Marques.

Em 1974, fixou-se definitivamente em Porto Alegre, ingressando desde já no Departamento de Economia da PUCRS e, como professor adjunto, passou a lecionar as disciplinas de “Introdução à Economia I e II”.

No ano de 1975, passou a lecionar também na faculdade de Arquitetura e no Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas – IEPE, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.

No período de 16/05/1975 a 05/05/1977, Ney Marques ocupou a presidência da Fundação de Economia e Estatística – FEE, durante a Gestão 1975-1977. Formalizada em 13/11/1973, a Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser – FEE foi um órgão do Governo do Rio Grande do Sul, vinculado à Secretaria de Planejamento e Gestão, que produzia dados estatísticos e indicadores sobre o Estado. A FEE foi declarada encerrada em abril de 2018. Entretanto, uma parte da sua produção estatística continua ativa, atualmente vinculada à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão – SPGG, sob o nome de Departamento de Economia e Estatística (DEE). Durante a gestão 1991-1993 a presidência da FEE foi exercida por Dilma Vana Rousseff, que depois viria a ser presidente do Brasil.

Na segunda metade dos anos 1970, Ney Marques exerceu o cargo de consultor técnico da Diretoria Sul da Carteira de Crédito Geral e de Crédito Rural do Banco do Brasil - DISUL (RS), sediada em Porto Alegre. Também ministrava aulas na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e na Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS.

Identidade Funcional de Ney Marques no Banco do Brasil S/A. Fonte: Acerto da família de Ney Marques.

Ney Marques sempre estimulou seus alunos a se desenvolverem e a ocuparem cargos de destaque. Foi o caso de Nemésio Altoé, funcionário do Banco do Brasil em Maringá e seu ex-aluno no curso de graduação em Economia da UEM, que também foi seu aluno no curso de mestrado na UFRGS, em Porto Alegre. Durante seu mestrado, Nemésio Altoé foi indicado por Ney Marques a integrar, a partir de dezembro/1977, um Grupo de Trabalho para revisão dos normativos do Crédito Rural, no Banco do Brasil – BB, em Brasília, o que lhe abriu as portas para se transferir definitivamente para a Direção Geral daquela instituição bancária. Na verdade, o Professor Ney Marques foi para ele uma espécie de "padrinho"' profissional.

Ney Marques participou do conselho de administração da empresa Borregaard, grande fábrica de celulose instalada em Guaíba (RS), em que o Banco do Brasil – BB detinha importante participação acionária. Era o representante do BB na empresa. Depois de um processo de nacionalização, a empresa passou a chamar-se Riocell. Em 2009, a unidade foi adquirida pelo Grupo CMPC, do Chile.

Ney Marques faleceu precocemente em Porto Alegre, no dia 04/06/1979, tendo como causa edema agudo pulmonar com embolia pulmonar. Tinha 50 anos de idade. Residia na Rua Manajó, nº 306, na capital gaúcha. Seu corpo está sepultado no Cemitério da Irmandade Arcanjo São Miguel e Almas, em Porto Alegre.

Apesar de ter sido funcionário do Banco do Brasil por 27 anos, era vocacionado ao magistério. Amava dar aulas e compartilhar suas experiências e seu tempo com seus alunos.

Também gostava do ambiente rural. Com suas economias, adquiriu um lote de terras no município de Viamão (RS), onde foi pioneiro na criação de suínos da raça Large White e de vacas de leite. Até hoje a propriedade é mantida na família.

Família de Ney Marques em registro de abril/1966 – Da esquerda para a direita: A esposa Eny e os filhos Ney Marques Filho, Enyara e Elaine Maria. Fonte: Acerto da família de Ney Marques.

A esposa Eny de Souza Marques faleceu em Viamão (RS), em 04/04/2015, após anos com Alzheimer.

Sobre os filhos de Ney e Eny:

Elaine Maria de Souza Marques graduou-se em Economia e por muitos anos trabalhou na Fundação de Economia e Estatística – FEE. Casada com Regis Oliveira Ferreira. Faleceu em 12/07/2016;

Enyara de Souza Marques graduou-se em Administração de Empresas. Está aposentada; e

Ney Marques Filho trabalhou na Copagril, em Marechal Cândido Rondon (PR), onde se casou com Ângela Cristina Speck. Comerciário. Atualmente vive na propriedade rural da família, em Viamão. 

Os filhos de Ney Marques deram-lhe 4 netos, todos nascidos após o falecimento do avô:

Mariana Marques Ferreira, filha de Elaine Maria de Souza Marques, graduada em Direito. É auditora do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul;

Rodrigo Marques de Figueiredo, filho da Enyara de Souza Marques, professor graduado em Engenheira Elétrica, com mestrado em Computação Aplicada e doutorado em Geologia. É coordenador dos cursos de engenharia de controle e automação, engenharia eletrônica e engenharia da computação na Unisinos. Gestor do Centro de Competência em Hardware do Instituto SENAI de Inovação. Casado com Ana Paula Mallmann, também professora e coordenadora de curso na Unisinos. O casal tem uma filha, Martina Mallmann de Figueiredo.

Ricardo Marques de Figueiredo, 39 anos de idade, filho de Enyara de Souza Marques, engenheiro elétrico. Casado com Veridiana Boeira, graduada em Administração e que atua como Personal Organizer. O casal tem uma filha: Helena Boeira de Figueiredo, com 10 anos de idade.

Ney Marques Neto, filho do Ney Marques Filho. Graduado em Gestão Pública. Servidor público do TJRS, lotado no Fórum de Novo Hamburgo (RS). Está cursando especialização Lato Sensu em Inteligência de Estado e Policial. Casado com Leidiane Castro Marques, graduanda em Segurança Pública. O casal tem uma filha: Betina Castro. 

Em homenagem ao ilustre professor, o Município de Maringá promulgou a Lei Municipal nº 1372, de 04/06/1980, proposta pelo então vereador Tadeu Bento França, que alterou a denominação da Rua 7.103, do Jardim Universitário, para Rua Professor Ney Marques.

Em vermelho, o traçado na Rua Professor Ney Marques, situada no Jardim Universitário (em amarelo), loteamento aprovado pela prefeitura em 14/11/1976, situado na face sul do Campus da UEM.


Em 29/04/1982, o Departamento de Economia da UEM propôs denominar o primeiro anfiteatro construído no novo campus, em sua concepção definitiva, e que foi destinado ao Centro de Estudos Sócio-Econômicos, com o nome do Professor Ney Marques. A proposta foi aceita pelo Conselho Departamental do Centro, que o encaminhou ao Conselho Universitário da UEM. Coube ao conselheiro Eurico Mattana Comboim relatar a proposta ao Conselho, que a aprovou por unanimidade.

Placa de inauguração do Auditório Professor Ney Marques. Acerto: Marco Antonio Deprá.


Em 30/08/1982, foi inaugurado o Auditório Professor Ney Marques, na UEM. O professor Aroldo Xavier, então vice-reitor da UEM, fez o discurso principal, na presença dos familiares do homenageado.

Registro da inauguração do Auditório Ney Marques, que fica no Bloco D03, na UEM. Na primeira fila, da esquerda para a direita, aparecem o prefeito municipal Sincler Sambati, o reitor Neumar Adélio Godoy. Em seguida, membros da família de Ney Marques: o neto Rodrigo, a filha Enyara, a esposa Eny, e o filho Ney Marques Filho. Na segunda fila, atrás de Eny e Ney, os professores José James da Silveira e Zitsuo Assakawa, mais conhecido como professor Chico, grande amigo de Ney Marques. Na imagem também aparecem os professores do Departamento de Economia Eleutério Vaselai, Antonio Carlos Lugnani, Natalino Henrique Medeiros, Antonio Agenor Denardi, Urbano Buchweitz e Adilson Irineu Schiavoni, dentre outros. Também aparecem na imagem os professores Antonio Augusto de Assis e Manoel Jacó Garcia Gimenes. Fonte: Site Maringá Histórica.

Em 06/09/1983, inspirada no antigo Prêmio CEPES de Economia, a Resolução nº 19/83, do Conselho Universitário da UEM, instituiu o Prêmio Ney Marques de Economia, e aprovou o seu regulamento. A partir de então, inicialmente a cada semestre, e depois anualmente, o Departamento de Economia concede esse prêmio ao aluno formando do Curso de Ciências Econômicas que se destaca, em termos de nota (requisito mínimo de nota 8,0 nas disciplinas cursadas), e na participação das atividades de ensino, pesquisa e extensão e representação discente. 

O Prêmio CEPES de Economia, instituído em 1973, era um prêmio do Centro de Estudos e Planejamento Econômico e Social de Maringá – CEPEM, vinculado à Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Maringá – FECEM.  Esse prêmio foi entregue, em 1975 e 1976, para agraciar de maneira simbólica o aluno de destaque no Curso de Ciências Econômicas.  Extinto o CEPEM, o prêmio também foi extinto. 

O prêmio CEPES era representado por uma estatueta esculpida em madeira por Conrado Moser, o mesmo escultor do Cristo da Catedral, retratando a figura do “Semeador”, como incentivo aos profissionais que semeiam idéias. 

Em 1973, Germano Sordi, formando do Curso de Economia em 1972 e atual presidente da Cooperativa Agrícola Regional de Produtores de Cana Ltda. – Coopcana, sediada em Paraíso do Norte (PR), foi o primeiro aluno agraciado com o Prêmio CEPES, recebendo a estatueta "O Semeador" das mãos do professor Ney Marques. 

Ney Marques entrega a estatueta “O Semeador” a Germano Sordi, primeiro aluno agraciado com o Prêmio CEPES de Economia. Fonte: Acervo pessoal de Germano Sordi.

Germano Sordi mostra a estatueta “O Semeador”, cercado de colegas e professores do Curso de Ciências Econômicas. Fonte: Acervo pessoal de Germano Sordi.

Estatueta “O Semeador”, esculpida por Conrado Moser. A placa tem os seguintes dizeres: O Semeador – Prêmio CEPES de Economia – 1973 – Germano Sordi – Bacharelado pela Faculdade de Ciências Econômicas – Universidade Estadual de Maringá. Fonte: Acervo pessoal de Germano Sordi.

A seguir, estão relacionados os demais ganhadores dos prêmios:

Prêmio CEPES de Economia:
1975 – José Roberto Pinheiro de Mello
1976 – Laudenir Aparecido Galina

Prêmio Ney Marques de Economia:
1983 – Amália Maria Goldberg Godoy
1984 – Maria de Fátima Izabel Neto
1984 – Nanci Aparecida Meneguetti
1985 – Ana Izabel Pereira de Serra
1985 – Maria Helena Ambrósio Dias
1986 – Dione Meneguetti Silvestre
1987 – Joana Wakako Kimura
1988 – Valdemir Carlos Cristiano
1989 – André Aparecido de Sarro
1989 – Maria Luíza Sandri Meneguetti
1991 – Marcelo Farid Pereira
1993 – Emilton Cavalcante Mattos
1994 – José Orlando de Araújo Trevisan
1994 – Mara Lucy Castilho
1995 – Aparecida Antonia de Oliveira
1996 – Fernando Vendramel Ferreira
1997 – Luciana Aparecida Bastos
1998 – Solange Regina Marin
1999 – Cézar Reinaldo Rissete
2000 – Tatiana Diair Lourenzi Franco Rosa
2001 – Helen de Melo Ceoli
2002 – Eliane Cristina de Araújo Sbardelati
2003 – Kátia Harumi Omoto Urpia
2005 – Rachel Letícia Domingos
2006 – André Martins de Almeida
2007 – Patrícia Callefi
2008 – Vinícius Gonçalves Vidigal
2009 – Daniela Toyotani Camacho
2010 – Luma de Oliveira
2011 – Samuel Costa Peres
2012 – Rafael Montanari Durlo
2013 – Carlos Eduardo Gomes
2014 – Helis Cristina Zanuto Andrade Santos
2015 – Valdelei Peretti Filho
2016 – Érica Aparecida Ribeiro
2017 – Fernando Eloy Torrezan Marin
2018 – Gabriel Gregorin Galera
2019 – Tatiane Borges da Silva
2020 – Murilo Florentino Andriato
2021 – João Afonso Maingué
2022 – Tomás Fernandes Torre

Excepcionalmente, em 08/05/2014, o Prêmio Ney Marques de Economia foi concedido a José James da Silveira, professor aposentado do Departamento de Economia da UEM, que recebeu a estatueta “O Semeador” das mãos da professora Maria de Fátima Garcia, em reconhecimento à sua trajetória no Departamento.

Em 2021, por ocasião dos festejos dos 60 anos do Curso de Economia da UEM, o professor José Roberto Pinheiro de Melo foi agraciado com a estatueta “O Semeador”, em reconhecimento aos serviços prestados ao Departamento de Economia da UEM. Na ocasião, a estatueta foi reestilizada pelo ex-professor e artista Natalino Henrique Medeiros, que produziu a peça em argila.

A partir de então, o prêmio passou a ser denominado apenas de “O Semeador” e é representado por uma estatueta feita em acrílico.

Fontes:
Acervo da Câmara Municipal de Maringá;
Acervo de imagens da família de Ney Marques;
Artigos de jornais no site da Hemeroteca da Biblioteca Nacional;
Biografia produzida por alunos da disciplina “Planejamento Econômico” dos cursos de pós-graduação em Economia e Economia Rural, do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas – IEPE, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, datado de agosto/1979; 
Depoimento: Nemésio Altoé;
Depoimento: Ney Marques Filho;
Depoimento: Professor Doutor Jaime Graciano Trintin;
Depoimento: Professora Doutora Rosalina Lima Izepão;
Discurso do vice-reitor Aroldo Xavier por ocasião da inauguração do Auditório Ney Braga;
Site: https://www.youtube.com/watch?v=gPOv5h1yJR4;
Site: Wikepedia

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