Maringá

A grande cidade linear do Brasil - 1980

1980


Esse é um mapa do que seria a Metronor – Cidade Linear do Norte Paranaense. O projeto foi anunciado em 1980 e ganhou destaque em jornais de circulação nacional, como o Jornal do Brasil da edição de 22 de junho daquele ano.

A Metronor era uma ousadia que pouco saiu do papel. A ação mais próxima ocorreu 1982, quando o então presidente João Figueiredo veio à Maringá para assinar parte da obra que previa a duplicação da avenida Colombo.

A matéria publicada no Jornal do Brasil, em 1980, explica a dimensão do que seria a Metronor, apresentando um retrato da região no início daquela década.

“Uma cidade linear de 100 quilômetros está se formando ao longo da Rodovia Londrina-Maringá, unindo 12 municípios nascidos no ciclo do café, que ao entrar pelas férteis e virgens terras do Norte do Paraná, há menos de meio século, transformou a região num eldorado. A formação de um único conjunto urbano é inevitável porque as cidades apresentam crescimento desenfreado.

Com seus 1.013.400 habitantes (Curitiba tem 1.007.400), a Metronor, como já é chamada pela Secretaria de Planejamento do Paraná, escapa, por sua peculiaridade, da definição oficial brasileira de região metropolitana. Porém, antes do ano 2000 já será comum viajar durante horas pela "avenida principal" daquela quilométrica concentração urbana, que terá pelo menos 2 milhões de habitantes.


Explosão

Os dois extremos do eixo - Londrina e Maringá - são as duas principais cidades do Interior do Estado, não só pelo tamanho, mas pela expressão econômica que ganharam a partir do ciclo do café pós-1930. Maringá, que não existia há 35 anos, foi considerada a quinta cidade mais desenvolvida do Brasil em 1975 e hoje possui 200 mil habitantes.

Do outro lado, Londrina, com 321 mil e 600 habitantes é um importante polo cultural e político, disposto a competir em pé de igualdade com a maioria das capitais brasileiras. Entre os habitantes dessas duas cidades existe uma rixa desenvolvimentista, que estimula constantemente a competitividade, favorecendo ainda mais seu crescimento. No meio do eixo, Apucarana, com 120 mil habitantes e o entroncamento rodoviário onde se encontram a BR-376 vinda de Maringá, e a BR-170, vinda de Londrina.

É a partir de Apucarana, através da BR-376, que a maior parte da produção norte paranaense chega a Paranaguá: antes o café, hoje menos café e mais soja, trigo e pecuária. A área urbana de Maringá já ultrapassa seus limites territoriais e invade, sem nenhum constrangimento, o município de Marialva, [...]. Sarandi, pequeno distrito de Marialva, sedia boa parte das indústrias maringaenses, que a transformaram em cidade-dormitório.

Assim como Maringá já absorve Paiçandu de um lado, e Sarandi, de outro, estendendo seus tentáculos para Marialva, 10 quilometros adiante, o mesmo acontece em relação a Londrina, na extremidade Leste da Metronor. Ibiporã, a Leste, e Cambé a Oeste, já integram plenamente a área urbana de Londrina, que brevemente atingirá Rolândia, oito quilômetros eixo adentro. Da mesma forma, Apucarana tende a se estender até Cambira e Jandaia do Sul, a Oeste, e Arapongas dez quilometros a Leste.


Problemas

São cinco, assim, das 13 concentrações urbanas em 12 municípios, que já estão aglutinadas E isto começa a causar problemas, decorrentes das políticas isoladas de desenvolvimento, levadas a efeito em cada um dos municípios. As cidades de Cambé e Rolândia, por exemplo, podem começar a lançar seus esgotos na estrada do Ribeirão Caferal, o que causará sérios problemas para a população de Londrina, que capta água para seu abastecimento no mesmo rio.

Igualmente. Apucarana, Cambira, Arapongas, Jandaia do Sul, Mandaguari, Marialva e Sarandi, já enfrentam problemas para se desfazer de seus esgotos industriais e domiciliares, pois estão localizados na bacia do Rio Pirapó e poderão comprometer a captação de água de Maringá. O coordenador de Estudos e Projetos da Secretaria do Planejamento, José Vicente Socorro, observa que ‘o processo de apropriação imobiliária está se tornando cada vez mais especulativo, e já se começa a perceber o congestionamento do espaço entre os municípios’.

Outro problema da aglutinação, diz respeito ao crescimento industrial: ‘De nada adianta Londrina levar em conta a direção dos ventos para definir a localização de seu distrito industrial, sem considerar a posição de Cambé e Rolândia em relação aos mesmos ventos’, explica José Vicente Socorro.

Por isso, a Secretaria de Planejamento reuniu ontem em Apucarana (21/06/1980), 12 prefeitos, 149 vereadores, 95 gerentes de bancos, oito associações comerciais e industriais, 11 cooperativas centrais, e representantes de clubes, universidades, faculdades, consulados e órgãos de comunicação, para apresentar o projeto Metronor. No plano concreto, até agora, esse projeto prevê a duplicação da rodovia que liga Maringá a Londrina, e a definição de áreas industriais e residenciais, ao longo do eixo.


Objetivo

No plano político-administrativo, o objetivo é criar a região metropolitana do Norte do Paraná, que permitirá definir diretrizes conjuntas, para orientar o crescimento dos 12 municípios. A questão principal é que se o Governo Federal não encampar a criação daquela região metropolitana, o Governo Estadual terá que fazê-lo, pois ‘a conurbação exige formas de articulação político-administrativa coordenadas, para problemas que se interligam’, segundo o coordenador de Estudos e Projetos da Secretaria de Planejamento.

Com ou sem região metropolitana, a futurística Metronor continua crescendo: enquanto a taxa de crescimento da indústria paranaense foi de 23,5% ao ano, no período de 1970 a 1975, a do Norte do Paraná foi de 25% ao ano, no mesmo período. Aquela região respondia, em 1975, por 20% do valor da transformação industrial do Paraná, que era, então, de Cr$ 1.224.325,00.

As 12 cidades daquele eixo consomem, atualmente, 681 mil 692 mW hora, ou seja, mais da metade do consumo de energia elétrica de Curitiba (região metropolitana), que é de 1 milhão, 142 mil e 891 mW hora. Em 1977 existiam 92.836 veículos rodoviários na Metronor contra 158.270 em Curitiba. Enquanto a oferta de emprego crescia a 9% ao ano, no Paraná, entre 1970 e 1975, na Metronor esse crescimento era de 14%.

Esses números, segundo Jose Vicente Socorro, indicam que ‘apesar de não ser uma região metropolitana de direito, a Metronor é de fato, já que não se enquadra mais na definição de ‘aglomerados urbanos’’. Por isso, acrescenta: ‘é preciso buscar uma maior linearização do seu crescimento, para aproveitar melhor as áreas e evitar transtornos imprevisíveis’."

Fontes: Jornal do Brasil de 22 de junho de 1980/ Acervo do jornalista Marcelo Bulgarelli / Acervo Maringá Histórica.

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