Maringá

A assessora que expeliu “fogo pelas ventas” no Femucic - 1988

1988


A foto mostra o público do Femucic no Ginásio de Esportes Chico Neto em 1988. Na época, havia premiação para as melhores músicas e a grande novidade foi a introdução da música instrumental. As atrações daquela edição do festival foram: Cida Moreira, Belchior e Tetê Espíndola. Os primeiros colocados nas duas categorias (MPB e Instrumental) recebiam um valor em dinheiro e instrumentos musicais. A competição foi realizada entre os dias 22 e 24 de setembro. 

Apesar do sucesso, o resultado não agradou a todos. Uma assessoria da Secretaria de Cultura de Curitiba voltou à capital “expelindo fogo pelas ventas”, conforme o artigo de Aramis Millarch, publicado em 29 de setembro de 1988 no jornal O Estado do Paraná.

“As falhas do FEMUCIC segundo diz Lucimara

Lucimara de Castro, assessora da Coordenadoria de Ação Cultural da Secretaria de Cultura (substituiu a Sale Wolokita, durante sua viagem à Europa e Israel) e compositora nas horas vagas, voltou de Maringá, na segunda-feira, expelindo fogo pelas ventas, de tão revoltada com a (des)organização do 11º Festival Municipal da Canção, realizado no último fim de semana na Cidade Canção. Na opinião de Lucimara, o Femucic teve falhas clamorosas, a começar pela comissão julgadora - formada por 15 pessoas "sem ninguém que entendesse o mínimo de música", diz a assessora da Secretaria de Cultura. Apesar de promovido desde 1977, o Femucic só no ano passado é que procurou dar uma maior dimensão, inclusive convidando para o júri um instrumentista e arranjador da dimensão de César Camargo Mariano, além de outras pessoas com bom nível musical, como o jornalista Manoel Carlos Karam, na época na TV Paranaense/Rede Globo, agora editor de O Estado. As 12 finalistas da edição do ano passado do Femucic chegaram a sair num elepê (Sigla/Som Livre), mas que não teve a menor divulgação fora de Maringá. Em Curitiba, nenhuma loja sequer o recebeu para venda. 

Este ano - a confiar nas reclamações da irritada Lucimara - a promoção não teve um júri profissionalmente competente. No ano passado, a participação de César Camargo Mariano havia dado uma projeção ao evento, o que atraiu para esta 11º edição compositores de vários estados, com um total de 378 músicas inscritas - das quais foram selecionadas as 30 em competição - oito das quais apenas temas instrumentais, já que imitando a Feira de Música de Avaré (hoje, o mais bem organizado festival de MPB do Brasil). O Femucic também decidiu premiar os melhores trabalhos instrumentais. Os resultados foram altamente questionáveis - no entendimento de Lucimara, que concorreu com sua composição ‘Entreacto”, em vanguardista arranjo da pianista curitibana Cristina Bedusch, nos teclados, e a própria autora executando um original instrumento chamado pau-de-chuva. Em primeiro lugar entre as que disputaram o setor instrumental foi classificada a composição ‘Brasília’. ‘Bloco hermético’ ficou em segundo lugar. Melhor arranjo foi para a concorrente ‘Oração ao mar’. O que mais irritou Lucimara - e, segundo ela, outros concorrentes, foi o primeiro lugar dado a ‘Alfenim’ (José Carlos Marques/Delcio Carvalho) defendida pela curitibana (radicada no Rio) Jô Miranda. Lucimara chegou a dizer, com ironia, a uma integrante do júri: ‘Parabéns pela premiação a Edu Lobo e Chico Buarque’. Ante a surpresa da apalermada jurada, Lucimara ironizou: - É que não se precisa conhecer música para perceber que ‘Alfenim’ é um plágio descarado de ‘Beatriz’, que Chico e Edu compuseram para ‘O Grande Circo Místico’. A jurada, segundo Lucimara, teria respondido: - Ah! Eu bem que achei a música conhecida. Mas sabe como é que é... Há tantas composições, que a gente acaba confundindo. 

Além dos discutíveis critérios de julgamento, outra denúncia que Lucimara faz: a péssima acomodação oferecida aos participantes. Alecir de Antonina - que ao lado de Lídio Roberto, era um dos compositores de Curitiba, sofreu com as improvisadas instalações no ginásio de esportes. Embora ligada ao setor que coordena as atividades de música popular - inclusive os festivais de MPB - Lucimara surpreendeu-se ao saber - quando chegou a Maringá - que a Secretaria de Cultura participava da promoção, tendo oferecido várias passagens aéreas. Os shows custaram caro! Só o João Bosco teria recebido Cz$ 2 milhões. Cida Moreira e Belchior fizeram os shows nos outros dias.  A ‘Folha de Londrina’, em matéria publicada na edição de terça-feira, também foi rigorosa na análise do Festival, a partir da manchete: ‘Morno e sem sal’.”

Fonte: O Estado do Paraná / Acervo do jornalista Marcelo Bulgarelli / Acervo Maringá Histórica.

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