1959
Com texto de Marco Antonio Deprá.
Na página 89 do livro A saga do “Caboclo Violeiro”, de Dirceu Herrero Gomes e Donizete Oliveira, consta a informação de que “A Cafeeira Santa Luzia e a Máquina Ouro Verde ocupavam uma quadra no Maringá Velho com pelo menos 12 mil metros quadrados de construção. Com espessas paredes de concreto, o prédio está lá até hoje entre as ruas Antônio Octávio Scramin, antiga Guarani; Santa Joaquina de Vedruna, outrora Moscados; José Jorge Abrão, que se chamava Cleópatra, e Caramuru”.
Verificando o mapa de Maringá, constata-se que a área relatada refere-se aos Lotes 1 a 13, da Quadra 21, da Zona 6.
Achei estranha esta informação, visto que, como sabemos, a sede da Cafeeira Santa Luzia e da Máquina Outro Verde, ficava próxima dali, no Lote 4 da Quadra 5, da Zona 5, na atual Rua José Jorge Abraão, nº 305.
Informações da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), em Jussara, relativas aos Lotes 1 a 13, da Quadra 21 da Zona 6, com área de 7.811,30 m², dão conta de que originalmente os lotes foram compromissados pela colonizadora em 11 de agosto de 1959 para Américo Dias Ferraz, com a condição de construir um armazém de alvenaria de área mínima de 3 mil metros quadrados. Todavia, os direitos foram transferidos em 23 de dezembro de 1960 para 34 novos adquirentes, a seguir:
1. Alcindo Sisti;
2. Cecílio S. Olera;
3. Adalberto Araújo;
4. Gentil Gerardi;
5. Fazenda Araranguá Ltda.;
6. Guerino Negretti;
7. Marino Vitor da Silva;
8. Luiz Ferreira de Barros;
9. Antonio pessoa Velozo;
10. Pedro Ximenes;
11. Antonio Brunetta;
12. Orlando Alves Cyrino;
13. José Antonio Martins Bernal;
14. Jan Niedziejko;
15. Oreste Pallu;
16. José Pereira Sapata;
17. Severino Valer;
18. Yukio Nakagawa;
19. Nero Moura;
20. Brasilina Cogliati da Rocha;
21. Mário Lopes;
22. Companhia Agrícola São Luiz Rey;
23. Materiais para Construções Maringá Ltda.;
24. Mercedes Padilha;
25. Arlindo Rodrigues Pires;
26. Arthur Hoeflich;
27. Antonio Tait;
28. Abraão Bassit;
29. José Ignácio da Silva;
30. João Antonio Ramos;
31. Hiroshi Takizawa;
32. Miguel Silvino de Morais;
33. Mário Pedretti Filho;
34. Tilio.
Por fim, foi outorgada a escritura de compra e venda em 29 de junho de 1961 para Companhia Tsuhy de Armazéns Gerais, conforme escritura pública lavrada no 8º Tabelião de Curitiba, no livro 30 às fls. 167. Esta informação pode ser confirmada através da Transcrição 1419 do 2º CRI, de 13 de julho de 1961 que relata a transferência do imóvel da CMNP para a Cia Ivahy de Armazéns Gerais. No registro da CMNP consta Tsuhy ao invés de Ivahy, que considero o nome correto.
Em 28 de janeiro de 1970, houve a averbação em cartório de um armazém de alvenaria, com área total de 7.726,33 m².
Posteriormente, através da Transcrição 11.033, o imóvel foi transferido da Companhia Ivahy de Armazéns Gerais, com sede em Curitiba, representada por seus diretores Altamirano Pereira e Argemiro Wotroba Junior, bancários, residentes em Curitiba, para a Companhia Brasileira de Armazéns Gerais, representada por Antonio Firmino de Carvalho da Silva, advogado residente em São Paulo, através de Escritura Pública lavrada em Curitiba, em 27 de maio de 1970.
Conforme ata da Assembleia Geral Extraordinária, de 05 de março de 1992, houve alteração da razão social de Companhia Brasileira de Armazéns Gerais para C.B.A.G Armazéns Gerais Ltda. Em 31 de janeiro 1997, o imóvel foi vendido a José Arnaldo Masson.
Há alguns anos o imóvel está ocupado pela empresa Revest Acabamentos, que mantém seus estoques no local.
Como podemos constatar através dos registros acima, realmente os terrenos foram adquiridos por Américo Dias Ferraz com o objeto de ali construir armazéns. Porém, como sabemos, Américo transferiu residência para São Paulo logo após o término de sua gestão na Prefeitura de Maringá, em 14 de dezembro de 1960.
Não acredito que em apenas 16 meses, entre a aquisição do terreno em 11 de agosto de 1959 e sua venda, em 23 de dezembro de 1960, Américo tenha construído o armazém, como pretendia. É mais plausível acreditar que Américo tenha vendido o terreno a terceiros que o revenderam para a Companhia Ivahy de Armazéns Gerais, empresa que possivelmente foi a responsável pela construção do armazém existem até os dias atuais.
Penso que, provavelmente, os 34 adquirentes do imóvel tenham sido, na verdade, credores de Américo Dias Ferraz que ficaram com o terreno em troca de dívidas, pois é sabido que Américo passou por séria crise financeira naquele período.
De acordo com informações da Prefeitura, o projeto dos armazéns teve o Alvará de Construção aprovado em 22 de janeiro de 1970, tendo como proprietária a Companhia Ivahy de Armazéns Gerais. No projeto é informada a existência de uma construção de 145 m² (que deve ser o escritório) e uma área a construir de 7.581,33 no terreno de 7.811,40 m².
Há também o projeto do prédio do escritório, com 198,00 m² (triangular) e área construída de 119,00 m², aprovado em 03 de agosto de 1961. O projeto e a construção é de Aristides Athayde Cordeiro e o proprietário é a Companhia Ivahy de Armazéns Gerais de Maringá, em organização.
Por fim, podemos lançar a seguinte hipótese:
a) Em 11 de agosto de 1959, Américo adquiriu o terreno da CMNP pretendendo construir ali um grande armazém para a Cafeeira Santa Luzia;
b) Em 23 de dezembro de 1960, devido à crise financeira pessoal e sua mudança para a capital paulista, Américo transferiu o terreno, sem construções, para um grupo de credores;
c) Em 29 de junho de 1961, o grupo de credores vendeu o terreno para a Cia Ivahy de Armazéns Gerais;
d) Em 03 de agosto de 1961, a Cia Ivahy teve aprovado alvará para construir numa face do terreno um pequeno prédio para servir como escritório da empresa, na rua José Jorge Abraão;
e) Em 22 de janeiro de 1970 a prefeitura aprovou o projeto de um armazém de 7.581,33 m² anexo ao escritório. Porém, acredito que o armazém tenha sido construído ainda no início da década de 1960 e que somente no início do ano 1970 a construção foi regularizada junto à prefeitura e ao Cartório de Registro de Imóveis;
f) Em 27 de maio de 1970, o imóvel foi transferido para a Companhia Brasileira de Armazéns Gerais que teve seu nome alterado em 5 de março de 1992 para C.B.A.G Armazéns Gerais Ltda;
g) Por fim, em 31 de janeiro de 1997, o imóvel foi vendido a José Arnaldo Masson.
Concluindo, podemos dizer que a informação que consta da página 89 do livro, A saga do “Caboclo Violeiro”, está equivocada.
Fontes: Acervo e contribuições de Marco Antonio Deprá / Acervo CMNP / Acervo Prefeitura Municipal de Maringá / Acervo Maringá Histórica.
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