2023
Foi por estas bandas do Norte do Paraná, tendo Londrina como ponto de referência, que um grão de café escreveu linhas douradas de desenvolvimento e transformação. Ao invadir essa terra fértil e acolhedora, a cultura cafeeira não apenas espalhou seus ramos, mas também plantou as sementes de cidades prósperas, unindo passado e presente em uma narrativa rica e aromática.
O café expandiu a monocultura paulista para os campos do Paraná, transformando terras vazias em centros urbanos vibrantes. Cidades como Jacarezinho, Londrina, Apucarana, Maringá, Paranavaí e Arapongas, uma vez rurais e isoladas, floresceram sob o toque do grão mágico. Era como se essas terras únicas transformassem os vazios em oportunidades, os sonhos em realidade.
A saga cafeeira que se desenrolou no Estado foi a continuação das plantações que vinham desde Minas Gerais – quando do esgotamento da exploração aurífera –, passando pelo Rio de Janeiro, São Paulo, até chegar às terras norte-paranaenses. Aqui, o solo avermelhado e fértil do terceiro planalto paranaense, resultado de derrames basálticos, batizado de "terra roxa" em homenagem ao termo italiano "rossa", tornou-se um aliado vital na jornada do café. O solo, de uma riqueza mineral incomparável, abraçou as sementes com amor, dando origem a plantações exuberantes.
A cafeicultura, então, tornou-se o motor financeiro do estado, provendo um fluxo contínuo de crescimento econômico. Seu ciclo pode ser dividido em três fases distintas: a pioneira de desbravamento e implantação da cultura, de 1900 a 1945; a de expansão e racionalização, de 1946 a 1974; e a de retração e reajuste tecnológico, de 1975 a 2000.
Londrina, no início dos anos 1960, consolidou-se como a "Capital Mundial do Café", contribuindo com mais de 50% da produção global. Enquanto na década de 1950 o Paraná tinha 300 mil hectares dedicados ao plantio do café, em 1962, saltou para 1,6 milhão de hectares plantados. Nos campos, as plantações com as folhas verdes e os frutos vermelhos, pintavam um quadro de prosperidade.
No entanto, como o destino frequentemente impõe, as geadas de 1963, 1964 e 1966 assopraram ventos gélidos de decadência. A Geada Negra de 1975 varreu a esperança, levando muitos a reconsiderar a lavoura do café. A soja, especialmente, emergiu como concorrente, mudando o curso da agricultura. Mas, como as histórias de resiliência são tecidas, o café lentamente renasceu, trazendo consigo o conceito de cafés especiais.
Hoje, as terras do Norte do Paraná lembram das décadas de glória e desafio, da abundância e da queda. O Museu do Café erguido em Londrina é como um cofre de memórias, uma câmara do tempo que testemunha a jornada caleidoscópica do café. Enquanto olhamos para trás, saboreamos o presente, a doçura do café e o amargo da geada, lembramos que a história é como um grão de café: uma semente plantada, cultivada e, finalmente, degustada.
Fontes: Sistema Fecomércio Sesc Senac PR / Acervo Londrina Histórica.
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