Londrina

O estilo de filmar de Orlando Vicentini

1940


No mundo do cinema, cada cineasta tem seu estilo único, sua marca registrada que se reflete nas obras que produz. Orlando Vicentini, médico e cineasta londrinense, não era diferente. Sua forma peculiar de organizar as filmagens revelava um olhar poético e um desejo de criar algo especial. Fichas numeradas se transformavam em seu roteiro, um planejamento para evitar desperdícios e garantir a eficiência na produção, tendo em vista que os filmes custavam muito caro.

As fichas de Orlando não continham desenhos, apenas descrições concisas de cada cena a ser filmada. "Cena 1", "Cena 2" e assim por diante. Nelas, o cineasta encontrava o mapa para dar vida às suas ideias. Ele compartilhava com seu filho Archibaldo a importância de planejar para evitar gastos desnecessários. Os filmes da época eram caros e cada pedaço de filme desperdiçado significava um custo a mais.

Apesar das limitações de tempo, devido ao seu compromisso com a medicina, Orlando Vicentini deixou sua marca na história do cinema londrinense. Seus filmes se destacavam pela criatividade e pelo uso de simbolismos nas imagens capturadas. No filme "Londrina 1959", uma obra feita em homenagem ao Jubileu de Prata da cidade, Vicentini explorou fusões e trucagens, demonstrando seu talento e paixão por experimentar.

Archibaldo, que acompanhava o pai nas filmagens, compartilhou em entrevista que as trucagens exigiam muito trabalho, mas eram o que Orlando mais gostava de fazer. Uma das cenas mais interessantes do filme foi gravada com a câmera fixada de cabeça para baixo no último vagão de um trem. O cineasta capturou os trilhos que se distanciavam, e, na montagem do filme, inverteu a cena. O resultado é uma impressão de que as imagens foram feitas com a câmera fixa na locomotiva, enquanto os trilhos se aproximam, criando um efeito visual surpreendente.

Vicentini também explorava a fusão de imagens, obtendo esse efeito no momento da filmagem, por meio da dupla exposição da película cinematográfica – e não posteriormente na edição, conforme se faz hoje. Ele experimentava diferentes técnicas, inclusive capturando cenas em câmera lenta. Registrava as imagens em 32 quadros por segundo e, na projeção em 16 quadros por segundo (a velocidade do filme mudo), conseguia o efeito desejado. Já para criar o efeito de câmera rápida, aplicava o mesmo processo utilizando a proporção matemática inversa.

A ousadia e a criatividade de Orlando Vicentini foram a essência de suas produções cinematográficas. Ele desafiou as limitações técnicas da época e explorou novas possibilidades, deixando um legado para o cinema londrinense.

Fontes: “Memória: Produção Cinematográfica em Londrina”, de Caio Julio Cesaro – monografia de conclusão do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, Universidade Estadual de Londrina, 1995 / Acervo Londrina Histórica.

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