Muitos personagens de abrangência nacional emprestam os seus nomes para vias públicas de Maringá. No entanto, a grande maioria dessas figuras estão submersas no ostracismo. Este é o caso de Alziro Zarur, que nomeia uma grande avenida na Zona Norte da cidade. 

Filho de imigrantes árabes, Alziro Abrahão Elias David Zarur nasceu em 25 de dezembro de 1914 na cidade do Rio de Janeiro, então capital da República. Aluno do Colégio Dom Pedro II, demonstrou desde cedo capacidades para o jornalismo e a liderança. Depois de atuar em diversos impressos estudantis, fundou o próprio veículo de comunicação: O Atalaia. 

Aos 15 anos, Alziro Zarur iniciou carreira profissional como jornalista no matutino A Pátria, sob a direção de Diniz Júnior. Mas não era destacado apenas por seus textos. Dono de uma voz tocante, participou da chamada "era de ouro" do rádio brasileiro. Por meio dessa plataforma de comunicação, criou diversos programas: Enciclopédia Literária, Você não tem consciência!, Gatinhos e Sinucas, Teatro de Gente Nova, Policial Zarur e As Aventuras de Sherlock Holmes. Neste último, transcrevendo a obra de Arthur Conan Doyle para a linguagem radiofônica, passou a encerrar suas produções com a sentença: "O bem nunca será vencido pelo mal".

Tendo sido criado por sua avó sob o catolicismo romano, Alziro Zarur frequentou diversos círculos religiosos: templos protestantes, centros espíritas, sociedades positivistas, dentre outros. Afastando-se de tudo e de todos, durante um ano vivenciou uma espécie de "exílio espiritual" para planejar, em pormenores, a obra que viria a fundar. Dessa forma, em 4 de março de 1949, criou o programa A hora da Boa Vontade na Rádio Globo. De forte cunho religioso, alcançou grandes índices de audiência. Mas foi muito criticado por pessoas do meio, que viam a iniciativa de Zarur como modismo, fanatismo e uma maneira de lançar-se para futuros voos políticos. Em todo caso, por meio de seu programa, eternizaria a oração sobre o copo d’água, tradição ainda muito popular e que o levaria a um status quase messiânico.

Em 1º de janeiro de 1950, Alziro Zarur fundou a Legião da Boa Vontade (LBV) com o objetivo de promover o diálogo inter-religioso e contribuir para o desenvolvimento solidário por meio de ações sociais, educacionais, culturais e filosóficas. 

Na cidade de Maringá, a LBV foi instalada em 1956, mesmo ano em que a entidade foi declarada utilidade pública federal por meio de decreto assinado pelo presidente Juscelino Kubitschek. Por aqui, passou a realizar atendimentos à população carente na Rádio Cultura e também no Aero Clube. Dentre suas ações assistencialistas, servia sopa aos mais necessitados.

Em 24 de junho de 1964, Zarur tentou legalizar o Partido da Boa Vontade (PBV) para concorrer à presidência da República. Não obteve sucesso nas articulações para disputar o cargo devido à atmosfera política da ditatura militar. Além disso, o discurso de Zarur não era levado a sério pela elite da época.

Em 1968, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná doou um terreno na então praça Gomes Carneiro (hoje, Monsenhor Bernardo Cnudde), na Zona 7, onde ainda se localiza a sede local da LBV. Na cidade, a entidade também mantém o Centro Comunitário de Assistência Social na rua Peroibe, no Parque das Grevíleas.

Alguns anos depois, em 7 de outubro de 1973, no Congresso da Boa Vontade de Deus que foi promovido no então Parque de Exposições Pres. Emílio Garrastazu Médici (atualmente, Francisco Feio Ribeiro), Alziro Zarur proclamou a Religião de Deus, a Religião do Terceiro Milênio, a Religião Universal, vertente ecumênica da LBV. Em 6 de junho daquele mesmo ano, Alziro Zarur foi outorgado com o título de Cidadão Honorário de Maringá.

Vítima de um ataque cardíaco, Alziro Zarur morreu em 21 de outubro de 1979. Tinha 65 anos e estava em sua residência, no Leblon. Foi enterrado perante uma legião de fiéis, que o chamavam de "paizinho", o “pai dos pais”. Deu sequência aos trabalhos da LBV como seu sucessor, Paiva Netto, que inauguraria em Brasília o Templo da Boa Vontade em 1989.

Em dezembro de 1981, o então prefeito João Paulino Vieira Filho (leis municipais números 1.516 e 1.539), homenageou Alziro Zarur emprestando o seu nome à uma via que ligava a ponte do Conjunto Ney Braga à avenida Mandacaru. Anteriormente aquela avenida era conhecida como Tico-Tico.

Fontes: Acervo Família Costa / Acervo Maringá Histórica / Blog Maringá, Maringá.