De origem alemã, os antepassados de João Preis imigraram para o Brasil no século XIX, se estabelecendo em Santa Catarina. No estado, passaram por algumas cidades em busca de melhores condições para a produção agrícola. Seus pais, Edmundo Preis e Paulina Back, se casaram aos 19 anos, em 1921. Ambos haviam nascido em 1902. O casal teve 13 filhos: Adelina, Josefina, Marcos, Elza, Marina, Ana, Bruno, Arno, João, Matilde, Helga e Renato, além de Tecla, que faleceu com poucos meses de vida.
João Preis, por sua vez, criaria íntima relação com a cidade de Maringá. Nascido na cidade catarinense de Forquilhinha, em 8 de março de 1936, devido a origem de sua família, o alemão clássico era a língua falada em casa.
Em 1946, os Preis se mudaram para Luzerna, no centro-oeste de Santa Catarina. Na época, o distrito se chamava Bom Retiro e fazia parte do município de Cruzeiro do Sul, atualmente Joaçaba. Na nova cidade, seguiram com as atividades no campo em um sítio que havia sido adquirido. Segundo João Preis, era um verdadeiro paraíso no meio das montanhas.
Os pais se preocupavam com os estudos dos filhos. Assim, João Preis foi matriculado no Colégio São João Batista, onde ficou por três anos. Depois foi transferido para a cidade de Rio Negro, no Paraná, distante 300 quilômetros da família, onde passou a estudar no Seminário Seráfico São Luís de Tolosa. Essa mudança se deu em 1950, quando estava prestes a completar 14 anos.
No entanto, o jovem João não quis ficar no seminário. A sua mãe entendeu que o filho não teria vocação para padre. Assim, fez com que retornasse para casa.
Foi em 1955, aos 18 anos, que João Preis iniciou as tratativas com a mãe, a dona Paulina, sobre a possibilidade de se mudar para o Norte do Paraná, localidade que seu irmão já estava há dois anos. Bruno Preis havia se mudado para gerenciar a filial da Transportadora Sociedade de Especialistas Rodoviários da Via Anchieta - São Paulo, conhecida pela sigla Serval, em Maringá.
Os pais acabaram concordando com aquela mudança, pois a região era considerada uma espécie de nova fronteira para as oportunidades.
No dia 18 de fevereiro de 1956, João Preis embarcou na estação ferroviária de Luzerna com destino a Maringá. Foram dois dias de uma longa viagem de trem, até chegar ao Norte do Paraná. A infância e o trabalho pesado no campo haviam ficado para trás.
Por intermédio do irmão, João Preis conseguiu emprego na filial da Serval em Londrina. Antes, porém, foi treinado na unidade de Maringá entre os meses de fevereiro e março daquele ano. Em Londrina, entregou mercadorias e também trabalhou na parte operacional da empresa. Depois de seis meses, tornou-se gerente da filial da Serval em Cornélio Procópio. Um ano mais tarde, essa unidade passou a ser a número 1 da Serval em carregamento de café em todo o país.
E foi neste escritório que João Preis conheceria a sua futura esposa. Acontece que todos os dias as estudantes da escola normal da cidade passavam em frente de sua agência. Uma delas chamou, de imediato, a atenção do jovem catarinense.
João Preis se casou com Ana em 26 de maio de 1960, na Igreja Cristo Rei, em Cornélio Procópio. Um mês depois, o casal se mudou para a nova cidade, a qual criariam raízes.
Junto do irmão Bruno, João montou novo empreendimento em Maringá no ramo dos transportes, em parceria com a empresa Transportadora Maior, de João Carlos Ziccardi, que tinha sede em São Paulo. Foi uma época de intenso trabalho, pois durante o dia, João Preis gerenciava a entrega de mercadorias em toda a região, enquanto que a noite coordenavam o transporte de café.
Com a esposa Ana, João Preis teve quatro filhos: Jane, que nasceu em 1961; João Max, que veio em 1963; Lincoln que chegou ao mundo em 1964; e Luciano, que é de 1973. Mas para além da família e dos negócios, João Preis manteve relação íntima com a sociedade maringaense.
Em julho de 1967 foi nomeado Juiz de Paz, função que desempenhou por 19 anos, período em que realizou milhares de casamentos.
Também integrou várias entidades da cidade e foi sócio fundador de muitos clubes, como o Olímpico, o Centro Português, o Vale Azul Iate Clube, além do saudoso Clube Recreativo e Cultural Teuto-Brasileiro, do qual foi presidente entre 1966 e 1968.
Foi durante a sua gestão à frente do Teuto-Brasileiro que inúmeros campeonatos de bolão foram realizados, promovendo e incentivando a prática do esporte na cidade. Em maio de 1967, por exemplo, uma coluna do clube passou a ser veiculada no impresso Folha do Norte do Paraná. Com o título, “Bolão em Revista”, a coluna trazia os principais acontecimentos do clube presidido por João Preis.
Aliás, o Teuto-Brasileiro marcou época em Maringá não só pelo incentivo ao bolão, mas, principalmente, pelos diversos eventos gastronômicos e culturais que promoveu, como a Festa da Cerveja. Em cada edição, canecas de porcelana eram vendidas como souvenires.
Hoje, muitas pessoas colecionam essas preciosidades de nossa história.
Ao deixar o Teuto-Brasileiro, João Preis passou a ocupar a vice-presidência da Federação Paranaense de Bolão, por onde seguiu o empenho pelo esporte.
Em 1969, a grande safra de café proporcionou intensa movimentação de cargas, gerando lucros acima do esperado para os irmãos Preis.
Com os resultados financeiros, João comprou 60 alqueires na região de Atalaia, à beira do rio Jacupiranga. Em 1972, também adquiriu um terreno na rua Mem de Sá, na Zona 2, onde construiu a sua casa.
A vida parecia ir bem para a família Preis. No entanto, vivíamos os anos de chumbo da Ditatura Militar no Brasil, regime que perseguia aqueles que buscavam destoar do governo. E o seu outro irmão, Arno Preis, era uma dessas pessoas. Desejando seguir a carreira diplomática, Arno cursou a Faculdade de Direito em São Paulo. Com forte consciência social, decidiu atuar contra a opressão e as injustiças que via no país. Sobretudo, após 1964, quando se engajou na luta armada para derrubar a ditadura que havia se instaurado.
De esquerda, Arno passou a viver na clandestinidade. Escondido, viveu um período na propriedade do irmão, na região de Atalaia. Inclusive, João Preis tentou convencê-lo de abandonar a luta armada. Mas Arno tinha suas convicções.
Arno Preis acabou morto em um confronto com militares em fevereiro de 1972, e, por ordem do Exército, foi enterrado sem o devido registro.
A família passou anos em busca pelo corpo. Foi somente após a redemocratização do país que a angustia teve fim.
Embora o túmulo de Arno tivesse sido encontrado, sua exumação ocorreu apenas em 1993, quando foi sepultado em Forquilhinha. Ou seja, 21 anos depois de ter sido enterrado como indigente, a sua identidade era restituída.
Em 1978, João Preis deixou a Transportadora Maior para abrir a Interpreis Representações, seguindo ainda no mesmo ramo. Nessa nova fase, acabou entrando para a vida pública, pois a empresa passou a ser administrada por seus filhos, o que lhe permitiu maior liberdade.
Primeiro, integrou as fileiras da UDN, mas depois mudou para a ARENA, partido que foi até mesmo tesoureiro no diretório municipal. Por fim, participou do PMDB.
Durante a primeira gestão de Said Felício Ferreira, João Preis foi secretário Municipal de Indústria, Comércio e Agricultura. Muitos outros projetos, claro, foram desenvolvidos. Foi um período de intenso trabalho que qualificaria João Preis como um dos prefeituráveis para as eleições de 1988.
Foi o próprio prefeito Said Ferreira que indicou seu então secretário, João Preis, para concorrer à Prefeitura. Seu nome foi ratificado como candidato do PMDB. As eleições se realizariam em 15 de novembro de 1988.
Concorreram seis candidatos. Além de João Preis, estavam no páreo: Ricardo Barros pelo PFL, Ademar Schiavone pela Aliança por Maringá que integrava PL, PTB, PDS e PDC, o ex-prefeito Adriano José Valente pelo PDT, Norberto Miranda pelo PT e Miguel Grillo pela Frente Alternativa Popular que compunha os partidos PSB, PCB e PC do B.
Preis iniciou a campanha com 2% das intenções de voto e, com a consistência de suas propostas e a compreensão sobre seus propósitos, conquistou espaço nas pesquisas e chegou ao primeiro lugar. Said Ferreira havia feito desafetos pela cidade. E atacar João Preis era atacar o então prefeito. Assim, os adversários iniciaram uma dura batalha naquelas eleições.
Segundo o seu biógrafo, o jornalista e pesquisador Dirceu Herrero Gomes, as acusações eram generalizadas, com calúnias boca a boca, panfletos e por meio de um jornal. Eram difamações infundadas, mas que causavam estragos.
Ao abrirem as urnas, Ricardo Barros foi sagrado como novo prefeito de Maringá, com quase 39 mil votos. João Preis, juntamente de seu vice, Lindolfo Silva Júnior, ficou em segundo lugar, com pouco mais de 29 mil votos. Depois das eleições, a família Preis se mudou para Curitiba, onde montou um escritório, mantendo tradição no ramo dos transportes.
Em 1990, Preis foi convidado pelo governador Álvaro Dias para disputar o cargo de deputado estadual, pois seu nome constava nas pesquisas. Ao final daquelas eleições, acabou conquistando a primeira suplência pelo PMDB, com mais de 14 mil votos. Veio a ocupar o cargo, devido a composição do secretariado de Requião, que havia convidado alguns deputados estaduais.
Assim como João Preis, muitos outros homens e mulheres chegaram ao Norte do Paraná em busca de seus sonhos. Aqui, formaram suas famílias, construíram suas vidas e seus empreendimentos. Algumas dessas pessoas, por consequência de seus perfis, também integraram a vida pública, por onde ainda desenvolveram projetos de relevância para toda a sociedade.
Fontes: Acervo Maringá Histórica / Foto de Laércio Nickel Ferreira Lopes.