1930
Adolfo Barbosa Góis, filho do nordeste, desembarcou em solo paranaense impulsionado pelo sonho do "novo Eldorado", embalado pelos folhetos que sussurravam promessas de prosperidade. Nascido em 27 de setembro de 1912, era natural do município de Frei Paulo, no interior de Sergipe, e viu suas raízes se entrelaçarem com a terra poeirenta de Londrina, moldando uma história de pioneirismo e dedicação.
Antes, foi diplomado pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1935. Ouviu ofertas de emprego em Salvador, mas decidiu mesmo embarcar rumo ao desconhecido. De navio, viajou até o porto de Santos e então seguiu direto para Londrina, de trem, pela estrada de ferro da Sorocabana.
Sua chegada não foi isenta de desilusões. As ruas empoeiradas e as construções precárias saudaram-no com um misto de encanto e desencanto. O apito do trem, antes um chamado à aventura, tornou-se um lamento, um apelo melancólico às terras distantes da Bahia.
Contudo, a Londrina de tantos migrantes e imigrantes reservava-lhe amparo. Seu amigo Fonseca, dono da modesta pensão que o acolheu por um longo tempo, foi o apoio que precisava. A rotina médica tomou forma em uma sala alugada, onde Adolfo atendia enfermos e realizava cirurgias que desafiavam as limitações do espaço e dos recursos que possuía; Adolfo não tinha acesso ao hospital mantido pela Companhia de Terras do Norte do Paraná, onde trabalhavam somente médicos por ela contratados.
Logo, o jovem médico desenvolveu amizade com uma família vinda do Mato Grosso, o que resultou no encontro com sua futura esposa, Ruth. Sua habilidade com as palavras e com a escrita o conduziu à fundação do jornal Folha Sul, um veículo de crítica e expressão. Enquanto editor do periódico, a coragem em confrontar desmandos e denunciar injustiças rendeu-lhe a ira de um militar-delegado.
O jornal foi fechado e todo o material foi confiscado. O motivo do ato de censura foi que o jornalista escreveu em 1942 uma crítica dizendo que parte do dinheiro arrecadado para a construção da Santa Casa de Londrina havia sido deslocada para atender a uma obra em Curitiba, coordenada pela esposa do então interventor Manoel Ribas. “Cortesia com o chapéu alheio” foi o título do editorial.
A liberdade de imprensa cedeu perante a autoridade, mas suas palavras não foram silenciadas. O médico manteve a chama da resistência acesa, continuando a fazer suas críticas aos governos estadual e federal: “Tinha me esquecido de que estávamos em plena ditadura de Getúlio Vargas”, alfinetando Ribas.
Fontes: Conselho Regional de Medicina do Paraná / Acervo Londrina Histórica.
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